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19 de novembro de 2009

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Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas correrias, unidas nas gargalhadas. Lúcia, a das negras tranças Violeta, a dos olhos mortos; Maria, a mais moça das três. Era uma vez três irmãs, unidas no seu destino.

Cortaram as tranças de Lúcia, cresceram seus seios redondos, suas coxas como colunas, morenas, cor de canela. Veio o patrão e a levou. Leito de cedro e penas, travesseiros, cobertores. Era uma vez três irmãs.

Violeta abriu os olhos, seus seios eram pontuados, grandes nádegas em flor, ondas no caminhar. Veio o feito e a levou. Cama de ferro e crina, lençóis e a Virgem Maria. Era uma vez três irmãs.

Maria, a mais moça das três, de seios bem pequeninos, de ventre liso e macio. Veio o Patrão, não a quis. Veio o feitor, não a levou. Por último veio Pedro, trabalhador da fazenda. Cama de couro de vaca, sem lençol, sem cobertor, nem de cedro, nem de penas. Maria com seu amor.

Era uma vez três irmãs: Maria, Lúcia, Violeta, unidas nas gargalhadas, unidas nas correrias. Lúcia com seu patrão, Violeta com o seu feitor e Maria com seu amor. Era uma vez três irmãs, diversas no seu destino.

Cresceram as tranças de Lúcia, caíram seus seios redondos, suas coxas como colunas, marcadas de roxas marcas. Num auto pela estrada cadê o patrão que se foi? Levou cama de cedro, travesseiros, cobertores. Era uma vez três irmãs.

Fechou os olhos Violeta com medo de olhar em torno: seus seios bambos de pele, um filho pra amamentar. No seu cavalo alazão, o feitor partiu um dia, nunca mais há-de voltar. Cama de ferro se foi. Era uma vez três irmãs.

Maria, a mais moça das três, foi com seu homem pro campo, pras plantações de cacau. Maria voltou do campo, era a mais velha das três. Pedro partiu um dia, não era patrão nem feitor, partiu num podre caixão, deixou a cama de couro e Maria sem seu amor. Era uma vez três irmãs.

Cadê as tranças de Lúcia, os seios de Violeta, cadê o amor de Maria?

Era uma vez três irmãs numa casa de putas pobres. Unidas no sofrimento, unidas no desespero, Maria, Lúcia, Violeta, unidas no seu destino.


trecho do livro Terras do Sem Fim - Jorge Amado

6 de abril de 2009

trecho

(...)
"Quero deixar bem claro que a única coisa que existe pra mim é a juventude, tudo o mais é besteira, lantejoulas, vidrilho. Posso fazer duas mil plásticas e não resolve, no fundo é a mesma bosta, só existe a juventude. Ele era a minha juventude mas naquele tempo eu não sabia, na hora a gente nunca sabe nem pode mesmo saber, fica tudo natural como o dia que sucede à noite, como o sol, a lua, eu era jovem e não pensava nisso como não pensava em respirar. Alguém por acaso fica atento ao ato de respirar? Fica, sim, mas quando a respiração se esculhamba.
Então dá aquela tristeza, puxa, eu respirava tão bem..."
(...)

Antes do Baile Verde - Contos de Lygia Fagundes Telles